Fernando Saldanha
Uruguaianense, cantante e fazedor de versos.
sábado, 31 de julho de 2010
quinta-feira, 8 de julho de 2010
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Último pedido
Quando eu morrer
me larguem numa chalana
cheia de palha...
Chamem os amigos da família.
Abram a bandeira do Rio Grande
e depois de um “gracias a la vida”
cantem a Ave Maria Pampeana..
Acendam velas...
Alguém pega uma delas
e tasca-lhe fogo,
e me joguem de jeito,
que na corrente eu ganho o leito.
Será o derradeiro recomeço,
eu num reencontro
e vocês enchendo com o rio
o peito.
Que todos os presentes
– meus amigos, meus parentes –
se abracem firme.
Mirem as chamas da estrela cadente,
levando semente da semente
na corrente da passagem.
Meu fim será um... fui.
Um foi-se flutuando e se apagando
na flor d’água.
Uma alma em fogo se afogando...
Abrandando aos poucos.
E quando todos, todos
verem a última faísca se arrefecer,
olhem para o céu
e para o fundo da noite
e verão mais uma estrela
feita do brilho de minhas cinzas.
me larguem numa chalana
cheia de palha...
Chamem os amigos da família.
Abram a bandeira do Rio Grande
e depois de um “gracias a la vida”
cantem a Ave Maria Pampeana..
Acendam velas...
Alguém pega uma delas
e tasca-lhe fogo,
e me joguem de jeito,
que na corrente eu ganho o leito.
Será o derradeiro recomeço,
eu num reencontro
e vocês enchendo com o rio
o peito.
Que todos os presentes
– meus amigos, meus parentes –
se abracem firme.
Mirem as chamas da estrela cadente,
levando semente da semente
na corrente da passagem.
Meu fim será um... fui.
Um foi-se flutuando e se apagando
na flor d’água.
Uma alma em fogo se afogando...
Abrandando aos poucos.
E quando todos, todos
verem a última faísca se arrefecer,
olhem para o céu
e para o fundo da noite
e verão mais uma estrela
feita do brilho de minhas cinzas.
Sangue do meu sangue
Para o poeta Ubirajara Raffo Constant
Somam-se cromossomos
e nós somos o que somos...
A genética
não erra...
Fez madeira de lei
o cerne do meu sangue.
Falquejou-me a carne,
argilou-me o crânio
e saí igual ao meu mano.
A genética
não erra...
É a reprodução do tempo
lapidada na pedra.
É a linhagem das glebas.
Pedra da forma dos filhos.
Fôrma dos rostos e corpos,
mistura de grãos e códigos,
a genética assemelha gestos e jeitos
e ainda cria gêmeos idênticos.
Me vejo no espelho
enquadrado:
um empoeirado porta-retrato
do meu velho pai,
que hoje parece meu avô
quando se foi
pra nunca mais..
A genética é a herança
encarnada na estampa.
A imagem e a semelhança
na face das crianças.
Seguimos e seguiremos seguindo
um caminho infinito,
a saga de nosso sangue híbrido.
Nas artérias genealógicas
levamos o tutano da raça.
Na árvore da história
somos
a seiva que vem das raízes
para trazer o verde. Sempre...
Somam-se cromossomos
e nós somos o que somos...
A genética
não erra...
Fez madeira de lei
o cerne do meu sangue.
Falquejou-me a carne,
argilou-me o crânio
e saí igual ao meu mano.
A genética
não erra...
É a reprodução do tempo
lapidada na pedra.
É a linhagem das glebas.
Pedra da forma dos filhos.
Fôrma dos rostos e corpos,
mistura de grãos e códigos,
a genética assemelha gestos e jeitos
e ainda cria gêmeos idênticos.
Me vejo no espelho
enquadrado:
um empoeirado porta-retrato
do meu velho pai,
que hoje parece meu avô
quando se foi
pra nunca mais..
A genética é a herança
encarnada na estampa.
A imagem e a semelhança
na face das crianças.
Seguimos e seguiremos seguindo
um caminho infinito,
a saga de nosso sangue híbrido.
Nas artérias genealógicas
levamos o tutano da raça.
Na árvore da história
somos
a seiva que vem das raízes
para trazer o verde. Sempre...
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Ladrões de sebo
Ladrões de sebo
são jovens poetas
que empoeiram as mãos
em páginas velhas.
Ladrões de sebo
são colecionadores
de títulos e nomes;
amores e amigos.
São filhos da noite,
irmão do vinho.
Gostam de ouvir a chuva
dos vinis antigos.
Conhecem alguns acordes,
cantarolam pelas ruas,
se empedam de poesia
nas estações noturnas.
Moram em repúblicas
ou em apartamentos
com livros empilhados
fazendo o papel de parede.
Apagam as luzes elétricas,
acendem o fogo das velas,
vagalumeiam cigarros
e inventam neologismos.
Ladrões de sebo são prodígios.
Serão os próximos livros
a serem roubados do arquivo
por novos colecionadores.
Ladrões de sebo
declamam de braços abertos
anunciando aos quatros cantos,
na presença dos quatro ventos,
o verde acervo dos versos,
sarau
dos mais velhos modernos.
são jovens poetas
que empoeiram as mãos
em páginas velhas.
Ladrões de sebo
são colecionadores
de títulos e nomes;
amores e amigos.
São filhos da noite,
irmão do vinho.
Gostam de ouvir a chuva
dos vinis antigos.
Conhecem alguns acordes,
cantarolam pelas ruas,
se empedam de poesia
nas estações noturnas.
Moram em repúblicas
ou em apartamentos
com livros empilhados
fazendo o papel de parede.
Apagam as luzes elétricas,
acendem o fogo das velas,
vagalumeiam cigarros
e inventam neologismos.
Ladrões de sebo são prodígios.
Serão os próximos livros
a serem roubados do arquivo
por novos colecionadores.
Ladrões de sebo
declamam de braços abertos
anunciando aos quatros cantos,
na presença dos quatro ventos,
o verde acervo dos versos,
sarau
dos mais velhos modernos.
terça-feira, 22 de junho de 2010
Minha tapera
No tronco das árvores,
nomes gravados
a ponta de chave.
No topo das árvores,
ninhos abandonados.
E por toda parte
a sombra se faz de vento
e um som de folhas secas
com ares de lamento
me traz viejas lembranças...
Viejas histórias.
Janelas abertas.
nomes gravados
a ponta de chave.
No topo das árvores,
ninhos abandonados.
E por toda parte
a sombra se faz de vento
e um som de folhas secas
com ares de lamento
me traz viejas lembranças...
Viejas histórias.
Janelas abertas.
Sobre tudo
Sobre a mesa, muitas coisas...
Um cabernet de Mendonza,
um maço de Malboro vermelho,
dois maços no cinzeiro...
O cálice pleno, um espelho...
Os versos acontecendo...
Desenha-se o pensamento
na fumaça que vai subindo...
Derramam-se pingos de vinho
no branco vivo do caderno aberto...
...e o fio do grafite
é língua de faca
lambendo cortes
é ferro em brasa
deixando marcas.
Vai trançando a forma dos versos
como se fossem tentos;
pequenos garranchos.
E mesmo sempre
abaixo do poema
sobretudo a mesa,
sustentando a cena.
O vinho é pão da poesia
na ceia das palavras.
Um cabernet de Mendonza,
um maço de Malboro vermelho,
dois maços no cinzeiro...
O cálice pleno, um espelho...
Os versos acontecendo...
Desenha-se o pensamento
na fumaça que vai subindo...
Derramam-se pingos de vinho
no branco vivo do caderno aberto...
...e o fio do grafite
é língua de faca
lambendo cortes
é ferro em brasa
deixando marcas.
Vai trançando a forma dos versos
como se fossem tentos;
pequenos garranchos.
E mesmo sempre
abaixo do poema
sobretudo a mesa,
sustentando a cena.
O vinho é pão da poesia
na ceia das palavras.
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